Todas as manhãs ele estaciona o Audi preto em frente ao meu escritório. Depois, calmamente, vai até à bagageira e retira a cadeira de rodas. Contornando o carro, chega à porta do passageiro e abre-a, alcançando com firmeza e ternura um senhor dos seus noventa e picos. Não há pressa. A velocidade do processo é ditada pela fraqueza muscular do senhor. Com muito cuidado, sempre com muito cuidado, ele ampara e guia o senhor até ao assento. Será o seu avô, deduzo, têm semelhanças. Dirigem-se para o café e tomam o pequeno-almoço. Todos os dias. Chova ou faça sol. Penso muitas vezes no homem do Audi preto e em como uns vivem tão conscientes da importância das coisas e outros tão distanciados.
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